Monólogo ao Pé do Ouvido + Banditismo por Uma Questão de Classe
{Recomenda-se ler [o post] e ouvir [a música] ao mesmo tempo}
"Há um tempo atrás
se falava de bandidos/Há um tempo atrás se falava em solução/" - Logo nos primeiros versos,
percebemos uma possível referência às promessas políticas, eleitorais, que
nunca são concretizadas para o combate dos problemas sociais. -
"Há um tempo atrás se falava em progresso/" - "Ordem e
Progresso", lema do Brasil. - "Há um tempo atrás que eu via
televisão." - Subentendidamente, uma crítica a mídia televisa.
"A política não se faz com discursos, festas populares e canções; ela faz-se apenas com sangue e ferro." (Otto von Bismarck) |
"Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha/" - Galeguinho
do Coque era um dos bandidos mais conhecidos na capital, sua fama era
devida aos seus assaltos seguidos de fugas espetaculares: quando Galeguinho
entrava na Favela do Coque, periferia de Recife, a polícia não conseguia mais
encontrá-lo. - "Não tinha medo da perna cabeluda/" - A perna cabeluda
era uma lenda popular, urbana, sobre uma perna que assombrava as pessoas. -
"Biu do Olho Verde fazia sexo, fazia/Fazia sexo com seu alicate/" -
Reza a lenda que Biu do Olho Verde era um homem bonito, loiro e de olhos claros
como o Galeguinho, e que, quando assaltava as mulheres, lhes dava uma escolha: - Quer
levar tiro ou um beliscão? - Daí, as mulheres escolhiam a segunda opção, então ele puxava um alicate
e apertava os bicos dos seios delas; quando estas mulheres reportavam os crimes
na delegacia, diziam que ele tinha arrancado os mamilos delas, que as tinham
estuprado, e etc, etc...
Capa do Cordel A Terrível História da Perna Cabeluda, de Guaipan Vieira, de 1998. |
"Oi, sobe morro, ladeira, córrego, beco, favela/A polícia atrás deles e eles no rabo dela/" - Aqui notasse um circulo vicioso, e infinito, como se os bandidos e os polícias girassem em círculos... - "Acontece hoje o que acontecia no sertão/quando um bando de macaco p erseguia Lampião/" - Macacos eram como eram apelidados, pelos cangaceiros, os policiais da Volante, e Lampião? Bem, vocês sabem... - "E o que ele falava muitos hoje ainda fala/"Eu carrego comigo: coragem, dinheiro, e bala!"/
"Em cada morro uma história diferente/Que a polícia mata gente
inocente/" - Comum sobre guetos, favelas, e periferia, o abuso policial,
em conjunto com a miséria e marginalização, resulta nisso: - "E quem era
inocente hoje já virou bandido/Pra poder comer um pedaço de pão todo
fodido!"
"Se der pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostrar por que os pobres não tem pão, me chamam de comunista e subversivo." (Dom Hélder Câmara) |
“Banditismo por pura maldade!/” - Ai está o “mau”, a violência humana,
citada no Rosa dos Ventos. - “Banditismo por necessidade.../Banditismo por uma
questão de classe!” - Neste último verso, Chico revela tamanho flagelo do
homem, pois para este ser “social’, ou seja, pertencer a alguma classe, nem que
seja a mais baixa, ele tem que tirar o que é dos outros para si.
"Metade da humanidade não come; e a outra metade não dorme, com
medo da que não come." (Josué de Castro, Geografia da Fome, de 1980) -
Esta é uma boa citação para ilustrar tudo aquilo que é cantado na Banditismo Por Uma Questão de Classe, que mostra, repetidamente, as várias faces de uma mesma pobreza. Quando digo repetidamente, quero dizer que Chico, ao que me parece, repete os versos dessa música, e d'outras, não só para que a mensagem chegue até você, mas que você a decore, que você a grave, que você a cante.
Centro da Cidade do Recife, à noite. |
Agora, falando em repetição, vamos para Rios, Pontes, e Overdrives!
Victor Mauricio Borba
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