Sinceramente,
a maioria das pessoas vive uma vida medíocre, uma vida pacata, quase vazia,
pois, é para isso que existe a arte. Na arte, as pessoas extravasam criando ou
consumindo sentimentos e emoções forjadas ou retratadas; na arte as pessoas são
livres para viver suas fantasias, seus desejos mais vorazes, e seus segredos
mais escondidos.
No
filme A Vida Secreta de Walter Mitty, de 2013, o protagonista (Ben Stiller)
parte da sua vida cotidiana para uma vida cheia de aventuras em busca de uma
única foto.
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Isso
parte do desejo de mudar as coisas, pois sempre as pessoas desejaram mudar o
mundo, porém nunca se deram conta, ou já quem sabe, da origem desse desejo. Tal
aspiração provém de uma realidade muito dura imposta a nós: desde que nascemos
temos um lugar na sociedade, querendo ou não, quando ainda bebês já somos indivíduos
com lugares impostos de uma forma ou de outra, ante as nossas classes sociais. Não
estou querendo ser determinista como Ratzel, na verdade sou mais o contrário,
mas a questão é que, a partir do nosso nascimento, não podemos mais nos
desgrudar da alcateia.
No
filme Na Natureza Selvagem, de 2007, um jovem (Emile Hirsch) foge da sua
família e da sociedade capitalista em que vive, em busca da verdadeira liberdade,
em meio à natureza.
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Nós
somos lobos, somos criados como lobos, para que quando cresçamos estejamos
fortes para enfrentar a sociedade, pois aqueles que são criados como cães logo
são destroçados pelo sistema. Assim,
querendo ou não, os lobos devem andar em alcateias, pois todos nós temos
alcateias, sejam grandes, tal como a nação, ou pequenas, tal como a nossa família.
Os lobos que vivem solitários, ambiciosos, longe da alcateia, morrem mais
facilmente, os filósofos talvez possam ser um exemplo disso, enquanto todos
seguem o senso comum, os filósofos questionam todos os parâmetros da vida, e
desta dentro da sociedade; enquanto isso, a alcateia é vigorante em todo seu
esplendor “eterno”.
Uma alcateia de lobos. |
A ideia de que necessitamos do mundo, mas o mundo não
necessita de nós, é muito dilacerante, causa-nos um desconforto, pois nós
chegamos à insignificância pelo pensamento, tornamo-nos dispensáveis: até na
família, pois a família vive sem um
indivíduo, mas esse indivíduo não consegue viver, plenamente, sem a família.
Daí nasce nossa sede, nosso desejo de que o mundo venha um dia precisar de nós,
nossa vontade de que ele se transforme, de que melhore, depois da nossa
existência. Mas, para mudar qualquer sociedade humana, só há dois caminhos,
dois caminhos quase opostos: o Caminho da Palavra e o Caminho
do Martelo.
Dois caminhos. |
O Caminho do Martelo consiste no desejo de mudar o mundo para o povo, a luta pelo povo, para que assim o povo venha a precisar de você: em defesa de um grupo social, o indivíduo luta contra toda a massa, brutalmente mesmo, para que assim tome a coroa para si. E agora, sendo o “rei”, todo o seu reino precisa de você, tanto quanto você sempre precisou da sociedade.
Abdullah bin Abdulaziz Al-Saud - Rei da Arábia Saudita |
O outro caminho, o Caminho da Palavra, é uma via mais egocêntrica: você luta para você, como a burguesia, para o seu benefício próprio, sem levantar a mão, e, quando você chega “sozinho” a glória, a sociedade lhe inveja e o cobiça, e, por isso, lhe entrega abertamente a coroa, o tornando líder do povo. O povo passa a não viver sem você ao lhe colocar no poder, tal como você não vive sem a massa.
Luís Inácio Lula da Silva - Ex-Presidente do Brasil |
Os dois caminhos não são referentes a momentos sobre o tempo, pois hoje há Estados de Martelo, em que há um ditador ou rei como líder, e há Estados de Palavra, em que há um presidente ou um primeiro-ministro no poder.
Fidel Castro |
Também
há exemplos históricos: Jesus foi um indivíduo que foi pelo Caminho da Palavra,
com o seu ego, e com todos os seus atos milagrosos, ele quis mostrar que era
Filho de Deus, e quando o povo o considerou Rei dos Judeus, foi lhe dado a coroa; enquanto Fidel foi pelo Caminho
do Martelo, com sua luta pelo povo ele quis reivindicar uma vida justa, pegando
em armas e matando outros homens para poder tirar a coroa, à força, para si, se tornando Presidente de Cuba.
Mas,
mudar a sociedade não está diretamente ligado ao poder, o poder está aí na coroa, como um objetivo, uma junção do objeto com o motivo. Este objetivo vem da própria pessoa, vem da carne, e não
está ligado diretamente a um dos caminhos, é percebido que, através da história
e das obras literárias, esse simbolismo de caminhos é muito caracterizado pelo
bem ou pelo mal, a vida não é maniqueísta. Não cabe a um escritor definir sua
predileção de caminhos para que este seja certo ou aquele seja errado, cabe a
todas as pessoas escolherem qual dos caminhos seguir, sabendo, é claro, que
qualquer um dos dois pode levar tanto para a vitória quanto para o fracasso.
Victor Mauricio Borba
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