quinta-feira, 13 de março de 2014

Os Caminhos da Mudança

Sinceramente, a maioria das pessoas vive uma vida medíocre, uma vida pacata, quase vazia, pois, é para isso que existe a arte. Na arte, as pessoas extravasam criando ou consumindo sentimentos e emoções forjadas ou retratadas; na arte as pessoas são livres para viver suas fantasias, seus desejos mais vorazes, e seus segredos mais escondidos.
No filme A Vida Secreta de Walter Mitty, de 2013, o protagonista (Ben Stiller) parte da sua vida cotidiana para uma vida cheia de aventuras em busca de uma única foto.
Isso parte do desejo de mudar as coisas, pois sempre as pessoas desejaram mudar o mundo, porém nunca se deram conta, ou já quem sabe, da origem desse desejo. Tal aspiração provém de uma realidade muito dura imposta a nós: desde que nascemos temos um lugar na sociedade, querendo ou não, quando ainda bebês já somos indivíduos com lugares impostos de uma forma ou de outra, ante as nossas classes sociais. Não estou querendo ser determinista como Ratzel, na verdade sou mais o contrário, mas a questão é que, a partir do nosso nascimento, não podemos mais nos desgrudar da alcateia.
No filme Na Natureza Selvagem, de 2007, um jovem (Emile Hirsch) foge da sua família e da sociedade capitalista em que vive, em busca da verdadeira liberdade, em meio à natureza.
Nós somos lobos, somos criados como lobos, para que quando cresçamos estejamos fortes para enfrentar a sociedade, pois aqueles que são criados como cães logo são destroçados pelo sistema. Assim, querendo ou não, os lobos devem andar em alcateias, pois todos nós temos alcateias, sejam grandes, tal como a nação, ou pequenas, tal como a nossa família. Os lobos que vivem solitários, ambiciosos, longe da alcateia, morrem mais facilmente, os filósofos talvez possam ser um exemplo disso, enquanto todos seguem o senso comum, os filósofos questionam todos os parâmetros da vida, e desta dentro da sociedade; enquanto isso, a alcateia é vigorante em todo seu esplendor “eterno”.
Uma alcateia de lobos.
A ideia de que necessitamos do mundo, mas o mundo não necessita de nós, é muito dilacerante, causa-nos um desconforto, pois nós chegamos à insignificância pelo pensamento, tornamo-nos dispensáveis: até na família, pois a família vive sem um indivíduo, mas esse indivíduo não consegue viver, plenamente, sem a família. Daí nasce nossa sede, nosso desejo de que o mundo venha um dia precisar de nós, nossa vontade de que ele se transforme, de que melhore, depois da nossa existência. Mas, para mudar qualquer sociedade humana, só há dois caminhos, dois caminhos quase opostos: o Caminho da Palavra e o Caminho do Martelo.
Dois caminhos.
O Caminho do Martelo consiste no desejo de mudar o mundo para o povo, a luta pelo povo, para que assim o povo venha a precisar de você: em defesa de um grupo social, o indivíduo luta contra toda a massa, brutalmente mesmo, para que assim tome a coroa para si. E agora, sendo o “rei”, todo o seu reino precisa de você, tanto quanto você sempre precisou da sociedade.

Abdullah bin Abdulaziz Al-Saud - Rei da Arábia Saudita
O outro caminho, o Caminho da Palavra, é uma via mais egocêntrica: você luta para você, como a burguesia, para o seu benefício próprio, sem levantar a mão, e, quando você chega “sozinho” a glória, a sociedade lhe inveja e o cobiça, e, por isso, lhe entrega abertamente a coroa, o tornando líder do povo. O povo passa a não viver sem você ao lhe colocar no poder, tal como você não vive sem a massa.

Luís Inácio Lula da Silva - Ex-Presidente do Brasil
Os dois caminhos não são referentes a momentos sobre o tempo, pois hoje há Estados de Martelo, em que há um ditador ou rei como líder, e há Estados de Palavra, em que há um presidente ou um primeiro-ministro no poder.

Fidel Castro
Jesus de Nazaré
Também há exemplos históricos: Jesus foi um indivíduo que foi pelo Caminho da Palavra, com o seu ego, e com todos os seus atos milagrosos, ele quis mostrar que era Filho de Deus, e quando o povo o considerou Rei dos Judeus, foi lhe dado a coroa; enquanto Fidel foi pelo Caminho do Martelo, com sua luta pelo povo ele quis reivindicar uma vida justa, pegando em armas e matando outros homens para poder tirar a coroa, à força, para si, se tornando Presidente de Cuba.


Mas, mudar a sociedade não está diretamente ligado ao poder, o poder está aí na coroa, como um objetivo, uma junção do objeto com o motivo. Este objetivo vem da própria pessoa, vem da carne, e não está ligado diretamente a um dos caminhos, é percebido que, através da história e das obras literárias, esse simbolismo de caminhos é muito caracterizado pelo bem ou pelo mal, a vida não é maniqueísta. Não cabe a um escritor definir sua predileção de caminhos para que este seja certo ou aquele seja errado, cabe a todas as pessoas escolherem qual dos caminhos seguir, sabendo, é claro, que qualquer um dos dois pode levar tanto para a vitória quanto para o fracasso.

Victor Mauricio Borba

Nenhum comentário:

Postar um comentário